A chegada do primeiro filho

Não por acaso, escrevo esse mês sobre a chegada do primeiro filho na vida do casal. Com o nascimento do Marco Antônio pude vivenciar, juntamente com meu marido, a nova experiência de sermos pais. 
O primeiro mês mexe com toda a vida conjugal, novas bases passam a ser requeridas para que a harmonia do lar prevaleça. Quando isso acontece, quando há resiliência, o elo fica mais intenso. Para isso, o casal precisará unir-se em objetivos comuns e a partir daí estabelecer novos acordos. 
O filho chega, as noites de sono mudam, na verdade você mal dorme, o mal humor pelo cansaço aumenta e você precisa respirar fundo para não descontar no outro as dificuldades normais da adaptação. Nesse texto não vou falar do sentimento sublime e inigualável de ser mãe, nesse momento não explanarei sobre o amor que ultrapassa qualquer dificuldade. Falarei da importância do esclarecimento, da união e do companheirismo em que o casal deve ter para que a sintonia fique forte e suporte as mudanças inevitáveis. 
Lembram-se dos textos sobre ciclo vital em que escrevi há alguns meses atrás? Pois bem, como eu disse, agora é a hora de estabelecer novos acordos conjugais. Quem acordará nas madrugadas? O banho? A fralda, quem trocará? Podemos contar com o companheiro ou seremos só um nesse momento? Quem ficará responsável pelas contas da casa? E os cuidados com o bebê, remédios, vacinas? Quem levará ao pediatra? Será o casal? A mãe? O pai? Querem a ajuda de familiares? Quem fará esse pedido caso haja necessidade ou desejo? Enfim, podem contar um com o outro?
Para que haja uma harmonia é importante diálogo. Da mesma forma em que esse filho foi gerado, seja planejada ou não, a partir do momento em que se decide ter um filho ambos são responsáveis pelo bem estar  da criança. Em primeiro lugar é o bem estar do bebê, num segundo momento, quase que concomitante é o bem estar do casal como pais desse filho. Sobreviver ao primeiro mês pode ser prazeroso como também penoso, caso todo o encargo fique unicamente para um dos pares. 
Planejar pode não funcionar. A vivência de noites mal dormidas, o cansaço, a irritação, podem surgir diante da impotência e assim, afastar o casal dando a falsa ideia de que o filho foi o causador da separação. Se há lucidez diante de tal situação , a comunicação sem ruídos promoverá a possibilidade de novos acordos o que garantirá que qualquer problema será do casal e não da chegada do filho. 
A comunicação sempre foi por mim defendida como crucial para o sucesso do relacionamento. O que parece ser óbvio se mostra ineficaz diante de um desafio. Contar com o outro nesse momento é sem dúvida o ponto mais importante para manter a vida saudável e acima de tudo ultrapassar e adaptar nessa nova fase.Com isso o casal conseguirá cumprir com a função de pais sem deixarem de lado o casamento. Grandioso desafio que com amor, companheirismo, compreensão e acima de tudo diálogo o sucesso fará parte dessa nova família. 
O filho crescerá em um ambiente adequado com dificuldades mas acima de tudo capacidade de resiliência e resolução de problemas. O filho perceberá que acima de tudo o que predomina é a união, o respeito e o amor. 

Ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais

O post passado foi muito comentado, recebi vários e-mails de leitores com questões que me instigaram a escrever mais sobre a relação pais e filhos. Essa semana ao assistir a uma entrevista com o terapeuta familiar Moises Groisman,  me deparei com uma colocação que me fez querer escrever sobre o que ele disse da relação parental. De acordo com Moises, muitos pais tentam fazer por seus filhos aquilo que não receberam de seus pais, e que isso, muitas vezes, faz com que o filho se torne o rei da casa.
Ao falar sobre isso, o terapeuta ainda complementou com a seguinte questão: Pais que tiveram pais rígidos que tentam ser diferentes com seus filhos, podem negligenciar na educação quando não conseguem colocar limites, quando os tratam fazendo exatamente diferente do que receberam, fazem como forma de punir aqueles que “falharam” na visão deles. O que muitas vezes acontece é que, esses filhos que são criados de forma passiva tornam-se os ditadores de seus pais, fazendo com que eles vivenciem o seu fracasso e a repetição da rigidez de sua infância.
Quantos adolescentes entram no caminho ilícito? Quantos desses adolescentes tiveram pais que fizeram de tudo por eles? Isso não é regra mas, é muito comum. Não sou contra a questão de se fazer pelos filhos, mas, como disse no post passado, a criança e o adolescente precisam de amor, atenção, limite e frustração.
Ao assistir o Doutor Moises falar, me deu mais certeza de que muitos desses problemas que a sociedade e a família enfrenta é justamente por falta de pais que perdoaram seus pais. Saber que a forma de amar e educar mudou, o que não significa que não existiu amor e cuidado na forma rígida da educação passada. Ter a capacidade de tirar o que foi bom na convivência com aqueles pais, o quanto algumas daquelas atitudes foram benéficas para você, mesmo que movidos pela dor, foi a mola propulsora para o futuro.
Essa ideia de fazer o melhor para o filho não vem de agora, vem de muito tempo atrás. Ou seja, seus pais também pensaram em fazer o melhor por você e, como diz Elis Regina:
“Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo o que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais”

Quero encerrar esse texto propondo aos pais que reflitam e perdoem a forma como foram educados e pensem o quanto daquela educação ajudou a construir a pessoa que se é. Perdoem e não repitam, façam diferente sem precisar usar o anti-modelo. O anti-modelo pode ser a grande armadilha que fará você vivenciar o mesmo drama da infância. Ter um ditador em casa criado por você é igual a ter pais rígidos que fizeram com a intenção de ser o melhor para você.

Limite, Amor, Proteção e Frustração: Qual o melhor caminho para se educar?

Ouço quase que diariamente a seguinte pergunta: como posso educar meu filho sem ser rígida como meus pais mas, sem ser omissa? Outros pais dizem: quero ser amigo do meu filho, mas não quero deixar de ser pai, isso é possível? Ou ainda: se eu conversar com ele sobre tudo ele estará protegido do mal do mundo?
Questões como essas povoam a cabeça de muitos pais e as respostas nem sempre são satisfatórias. Logicamente não terei nenhuma fórmula onde se diz qual a melhor forma de se educar uma criança mas, posso dizer que, todas elas precisam de limite, amor, proteção e frustração. 
Vivemos em uma era onde crianças de três anos vivenciam prazeres do mundo adulto precocemente, entram em contato antes de conseguirem descobrir-se como uma criança. Vejo muitas delas com toda tecnologia em mãos. Descobertas que antes eram feitas na adolescência hoje são apresentadas aos 6,7,8 anos. Aniversários de crianças que mais parecem festas de adolescentes, brinquedos que eram esperados para se terem a altura permitida são fabricados em miniatura, possibilitando a experiência da adrenalina precocemente. 
Vi outro dia um anúncio de um parque de diversões vendendo ingressos que favoreciam àqueles com dinheiro passar à frente de outras pessoas para não terem que enfrentar fila. Não muito antigamente, talvez dez anos atrás, as filas eram divertidas, faziam-se amigos e aumentava a adrenalina. O que está acontecendo com os valores? Até os parques de diversões estão ensinando a intolerância, a impaciência, a falta de respeito ao próximo, o suborno e a corrupção. 
Penso que valores significativos foram extintos e não se colocaram nada no lugar. Talvez estejamos vivendo uma fase com pouco exemplo moral e ético. Por isso, costumo dizer quando os pais me perguntam como podem educar bem seus filhos para terem no futuro bons adolescentes e adultos íntegros: deem aos seus filhos limite, amor, proteção, exemplo e frustração. 
Quando digo exemplo não quero dizer para os pais que eles precisam se mostrarem perfeitos e infalíveis, muito pelo contrário, pais infalíveis são pais que exigem demais de seus filhos, exigem além do que qualquer ser humano é capaz de fazer. Sejam para seus filhos um ser humano, com seus princípios, valores e limitações. Frustrem seus filhos, não tenham medo de serem aqueles que dão as rédeas, não se amedrontem diante de um não, façam aquilo que julgarem o melhor mas, não deixem de escutar seus filhos pois, muitas vezes eles permitem que você mude de ideia e de visão. 
Facilitem o diálogo. Esse será seu melhor aliado.

O Pai que não mora em mim

No XIX Congresso da Associação Junguiana do Brasil, que aconteceu em Gramado, onde fui apresentar um trabalho, tive o prazer de assistir a palestra do Dr.Roberto Lehmkuhl entitulada “Um mundo sem pai” que me fez refletir e ter uma vontade grande de falar sobre o Arquétipo Paterno. Para isso, vou me basear no artigo do Dr. Roberto, disponível no site da http://www.ijrs.org.br/artigos.php?id=125 .

Para dar início a esse texto, coloco um trecho do artigo de Lehmkuhl, que diz: “A marca da experiência sob a batuta do pai é a tensão e a diferença de potencial. Se por um lado presentifica a dor, o desconforto e o conflito, por outro gera energia e vitaliza ao fazê-lo.O que a mãe provê é o preenchimento; o pai, a falta, o sentimento da falta, mas também a tecnologia e os recursos para o preenchimento. A mãe saciava a fome, o pai instrumenta o filho para, por conta própria, experienciar e, com seus próprios recursos, lutar por suprir. A prescrição vem do pai; o comportamento fica por conta do filho; o bom pai não dá o peixe, mas informa e ensina sobre técnica da pescaria”.

Essa citação me fez refletir sobre a situação atual de muitos homens e mulheres que encontro em meu consultório. Quantos não conseguem se relacionar com o mundo pois lhe faltam o masculino? O masculino no sentido da luta, do ir, do ter disposição para a vida. Muitas pessoas encontram-se paralisadas, faltam-lhe o pai. O bom pai, como diz o autor, o pai que ensina a pescar, que orienta e que empurra para a vida. Tenho me deparado, principalmente com homens, que se perderam quanto ao que devem fazer. Como devem agir, e caem nos vícios para sentirem-se mais seguros de si, como se fosse no concreto buscar o pai bom, o masculino que ensina, que dá coragem e mostra o caminho. 

Situações onde a busca do prazer é algo compulsivo é uma representação forte da ausência do pai, um exemplo, são os vícios. O vício relacionado a bebidas, drogas ilícitas, a  sexualidade que, para muitas pessoas são supervalorizada e por outras tantas é visto como algo a ser temido. Pessoas que não conseguem desenvolver-se no trabalho, em atividades produtivas e criativas. O pai em nossa sociedade é função importantíssima para o desenvolvimento psíquico de qualquer pessoa. A ausência de um pai bom pode gerar indivíduos frágeis, inseguros, rígidos e sem limites. 

Como diz o autor: “Será que alguém sabe quem é seu pai? Esta mesma pergunta é feita todos os dias por homens e mulheres que não encontram sentimentos de proteção, autoridade, confiança, sabedoria e senso prático para viver suas vidas”.
Quantos não vivem na insegurança e na falta de confiança em sua jornada da vida? Como coloca Moore na citação de Roberto Lehmkuhl, “Ás vezes, precisamos sentir-nos ausentes e vazios para evocarmos o pai”.
A falta pode ser uma mola propulsora para evocarmos o pai. O que isso quer dizer? Muitas vezes é no sofrimento que conseguimos perceber a força que existe em nós e com isso seguir com determinação, coragem e auto-confiança para os desafios da vida, sem a necessidade de deslocar para qualquer vício a força do pai bom, do masculino.