Pensei mil vezes antes de publicar esse texto, até ter uma experiência no Kindergarten do meu filho que trouxe a coragem de colocar a cara a tapa. Tenho certeza que inúmeras críticas virão mas tenho a intenção de trazer uma reflexão ao exagero das “regras ao mundo da fantasia infantil”.
Vou começar com algumas perguntas: o que acontece com a Bela e a Fera? Com a Cinderela? Com a Branca de Neve e a Rapunzel? E a Ana em Frozen? Poderia citar mais algumas princesas mas vou somente trazer uma pequena amostra. Todas se apaixonam e começam ali uma linda e eterna história de amor. Porque todos esses contos estão no imaginário das crianças? Simplesmente porque são saudáveis para o desenvolvimento.
O que estamos fazendo quando lançamos a campanha “criança não namora”? Criança não namora, é claro que não! Essa é a campanha mais esdrulucha que já vi. Mas crianças tem príncipes e princesas, falam que são seus namorados e casados e vejo um monte de pais horrorizados. Mais uma pergunta: horrorizados com o que? Beijo na boca, sexo, sensualização estão na cabeça dos adultos e não das crianças. Essa literalização do namoro como namoro adulto não faz parte do mundo infantil e, adultos que incentivam esse tipo de relação precisam ser denunciados. Vejam que não sou a favor da erotização infantil e isso é responsabilidade dos pais checarem os assuntos que chegam até seus filhos.
Já experimentaram perguntar para os pequenos o que é namorar? Provem e verão que está somente na cabeça dos adultos essa maldade tremenda. Mais um ponto importante: porque os pais que levantam essa bandeira levam seus filhos para acompanharem as sagas dos contos de fadas? Princesas, príncipes dançam, se apaixonam e as crianças brincam de príncipe e princesa. Vamos lá, as crianças brincam. O terror que estão colocando na infância por excesso de regras que massacram o imaginário infantil é extremamente danoso.
Já havia saído do Brasil com esse pensamento e mil questionamentos com essa campanha. Eis que me deparei com algo curioso na Sommerfest no kindergarten. Eu mal havia chegado e não entendi quase nada do que estava sendo cantado. Quando cheguei em casa fiz a tradução e toda a encenação fez um grande sentido. O tema foi: O casamento das pombinhas. Arregalei os olhos pois alguma coisa ali me dizia que a neurose instalada no Brasil com as crianças está ultrapassando todos os limites, tem acontecido uma retaliação ao mundo imaginário.
Para contextualizar, meu filho é da turma dos mais velhos, ou seja cinco anos. Começaram a cantar e celebrar o casamento das pombinhas onde duas crianças encenavam o ritual com direito a alianças. Fiquei de boca aberta. Sim! Crianças brincam de casar, crianças brincam de rituais e festejam a imaginação com muita alegria. Crianças brincam e adultos veem todos os problemas do mundo pois a mente está condicionada a isso e, infelizmente estão cada vez mais estritos as palavras, com dificuldades em adentrar ao mundo imaginativo. Que raios de campanha é essa? Alguém poderia me explicar? Nunca vi uma criança chegando em casa namorando alguém como os adultos. Mas vi muitas e muitas crianças sonharem que tem seus príncipes e princesas. Vamos deixá-las em paz. Vamos cuidar das nossas mentes para que nossas repressões não adoeçam ainda mais uma geração com muita regra enfadonha, muita digitalização e pouca oportunidade para imaginação.
E para encerrar, nada melhor que uma citação de Monteiro Lobato.
“A mim me salvaram as crianças. De tanto escrever para elas, simplifiquei-me”
Vamos simplificar?