Reli “A hora da estrela” de Clarice Lispector. Macabéa, uma mulher que vive uma vida em sobrevida. Aquela mulher que veio da aridez da vida para encontrar a aridez de uma sobrevida. Por que trazer uma literatura clássica para cá? Talvez porque não tenhamos nenhuma consciência do nosso estado “Macabéa”. Penso que Macabéa deveria se tornar um verbo. Estou macabeando, sem consciência, sem sentido, sem vida, sem nada.
Tag: Alienação
Criança não namora: mais UMA regra pungente a imaginação infantil.
Como sou Medíocre!
Essa semana assisti ao filme “Hannah Arendt”, li o livro “O estrangeiro” de Albert Camus, semana passada alguns vídeos do Ariano Suassuna e fiquei com a sensação de que vivemos em uma mediocridade gigantesca. Nos reinventamos e cremos que estamos sendo individuais, mudamos de ideias e opiniões e ficamos convictos de que algo novo surgiu. Seria mesmo possível não estar massificado? Vejam que comecei o texto dando exemplos que posso não ser tão medíocre assim: que horror! Não vou apagar a minha mediocridade, ela está aí e tem sido minha convidada.
Qual o tamanho da nossa cegueira? O que nos faz insistir olhar para as mesmas coisas exatamente do mesmo jeito? Porque tudo tem caído na normalidade? Que passividade é essa e com o que estamos sendo coniventes? Quais as decisões que tomamos e realmente acreditamos que não fazemos escolhas? As justificativas andam permeando demais a vida individual e consequentemente a vida coletiva.
O Brasil está caótico, o mundo em estado de alerta e nós, pessoas medíocres, continuamos a viver dia após dia. Pensamos, pensamos, discutimos virtualmente, rompemos relações – maioria virtuais – e levantamos bandeira de autocontrole e autoconhecimento. Procuramos soluções mágicas e temos certeza que não fazemos isso. Acreditamos em sentido de vida mas vivemos ainda na superfície do que nos é imposto como boa vida, social, ecológica, política e de preocupações.
Somos mandados até no que temos que nos preocupar. O bem e o mal está a todo vapor conduzindo nossa existência. Ora em um pólo, ora em outro, vamos dançando conforme a música e nos iludimos com a sensação de que estamos com as rédeas em nossas mãos.
Não sei se há muita saída para o que estamos vivendo quando decidimos ficar no meio, no esperado, no desejado, no direita e esquerda, na pouca reflexão. Até nossas reflexões precisam ser questionadas. O que refletimos é efetivamente nosso ou nos foi imposto de maneira sutil para que se torne mais uma preocupação que devemos ter?
A palavra medíocre diz respeito ao que é mediano, comum. Porque olhamos para isso como algo negativo? Isso me chama atenção demasiada. Porque temos horror de estarmos na média? Que sentimento é esse que nos permeia e nos chama para sair do lugar comum? O que consideramos mediano? Não será esse o anseio que nos leva de lá para cá? Não será esse o objetivo que nos conduz a grupos fechados de pessoas “aparentemente” fora da média? Quantas pessoas fora da média conhecemos? O que acontecerá se assumirmos nossa mediocridade e sentarmos à mesa com ela, olhar profundamente em seus olhos e questionar: onde está minha saída nisso tudo?
A vida é isso aí mesmo? Somos todos iguais com discursos e rótulos semelhantes? Impulsos e abatimentos na mesma linha? Pode parecer pessimista demais, mas não ando vendo pessoas indivíduos, vejo pessoas em massa.
“O que o move, move. O que o agrada, agrada. Seu gosto acertado, é o gosto do mundo” – Lessing apud Hannah Arendt – Homens em tempos sombrios.
Se baixamos a qualidade artística pela massificação, o que dirá o resto em nós? Cada um na sua própria massificação crendo que vive em um mundo de respeito a individualidade. Vivemos aí um individualismo massificado. Estou rindo de desespero até a próxima encarnação e me desconstruindo completamente sem saber onde isso vai parar.