Nós mulheres precisamos de liberdade.
A liberdade que necessitamos é aquela que nos oferecemos: a liberdade que damos ao nosso corpo.
O parto não cabe no desejo egóico.
O parto conta da história mãe e bebê, é a história de uma vida que não nos pertence, mas que damos a chance de existir. O parto fala da liberdade real, a liberdade para ser o que precisa ser.
Pode parecer estranho pensar que o parto virou produto. Virou produto há muito tempo, mas especialmente agora, não pagamos mais só pelo parto. Pagamos para carregar a culpa.
A ideia embutida hoje é que somos donas do nosso corpo. A questão não é fazer com que o corpo nos pertença. A questão é fazer com que o nosso corpo se torne mercadoria disfarçada de conexão. Compramos a ideia de que: se desejamos ter o parto natural ou normal, nós podemos fazer. “Sim, você consegue!”
Estamos sendo cruéis quando aceitamos esse tipo ideal como sinônimo de força feminina. Massacramos outras mulheres quando falamos: “Eu consegui o parto natural”. Quando aceitamos o fato de que o querer sobrepõe à natureza. Quem deseja é o ego e quanto mais desejo egóico, menos conexão se tem.
Quando se fala: “Eu consegui o parto natural”, o que é dito para a mulher ao lado é que ela não foi capaz de fazer o que você fez. Quem somos nós para dizer que conseguimos algo que não está sob nosso controle?
Será que podemos confiar naquilo que somos e no que a natureza é capaz de fazer? Será que podemos confiar no processo do nascimento para além do desejo? Essas questões andam pairando os meus pensamentos.